plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Foi muito golpe
Neila Baldi 
Professora universitária

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Escrevo acompanhando o lançamento da publicação "Brasil: cinco anos de golpe e destruição", organizado pela economista Sandra Brandão, e, imediatamente, volto àquele inverno de 2016, quando eu retornava para o Rio Grande do Sul. Lembro-me de ouvir foguetes quando o Senado consumava o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff. Lembro-me do seu discurso final: "O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento, está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social".

DESTRUIÇÃO

Quando apearam Dilma do poder, aqueles que sempre estiveram no comando conseguiram impor reformas que, diziam, trariam o crescimento econômico. A tua vida melhorou nos últimos cinco anos?

Primeiro aprovaram a Lei de Teto de Gastos, congelando investimentos por 20 anos nas áreas de educação e saúde. Em seguida, uma reforma trabalhista que, cinco anos depois, é piorada por uma Medida Provisória do atual desgoverno. A juventude será uberizada...

Naquele dia 31 de agosto, Dilma teve clareza do que viveríamos: "O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido". 

No primeiro ano do atual desgoverno, aprovaram a reforma da previdência. O Ministério da Cultura foi extinto e nós, artistas, vivemos sob uma cruzada ideológica. A violência contra negros, indígenas, mulheres e LGBTs aumentou. A tua vida melhorou nos últimos cinco anos?

EM CURSO

"O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência", disse Dilma. O golpe permitiu a ascensão da extrema-direita, alavancada pela Lava Jato. Permitiu que aquele deputado que dormia em plenário chegasse ao poder, que o Brasil voltasse para o mapa da fome, que aumentasse o desemprego, que a inflação voltasse e a crise econômica agudizasse. Pior: que vivêssemos os últimos ano sob a ameaça de outro golpe: militar, pois o senhor da casa de vidro vive testando a democracia e as instituições.

Neste 31 de agosto de 2021, Dilma repetiu esse discurso. E lembrou: "Nós éramos aqueles que impediam o projeto neoliberal." Encerrou sua manifestação conclamando para que todos e todas estejam nas ruas, resistindo: "As ruas são o local de organização popular".

Passaporte da vacina

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Ultimamente, temos acompanhado, no país e fora dele, as discussões acaloradas a respeito da obrigatoriedade ou não da vacina contra a Covid-19. Uns dizendo que ela deve ocorrer; outros, com fulcro na Constituição Federal do Brasil, defendem que ninguém pode ser obrigado a nada, inclusive a se vacinar. O avanço da variante Delta, mais contagiosa e agressiva do que as anteriores, tem levado a uma discussão sobre o direito de o Estado. O debate inclui a obrigatoriedade, no caso, o direito de as empresas privadas exigirem que as pessoas sejam vacinadas. 

Nos Estados Unidos, esse debate está em alta, já que mais ou menos 30% das pessoas ainda não se vacinaram, apesar de haver sobra de doses de vacinas no país. Os que defendem a obrigatoriedade se apoiam nas estatísticas, já que elas não deixam dúvidas da importância da vacina. Nos Estados Unidos, 97% dos pacientes internados e 99% dos mortos por Covid-19 são pessoas que não receberam nenhuma dose da vacina, ou seja, cidadãos que estão completamente desprotegidos. 

Outro exemplo da importância da vacina é a situação em que se contra Nova Zelândia, que com apenas 20% da população vacinada, teve um surto da doença, levando as autoridades a emitir novamente determinação de confinamento nacional até 31 de agosto. 

É evidente que a vacina não significa 100% de imunização, mas garante que a pessoa vacinada, se contaminada, terá menos sintomas. A obrigatoriedade advém da natureza contagiosa da doença covid-19, portanto, deve-se atentar que trata-se de uma situação de saúde pública, diferentemente, de uma vacina para a poliomielite, por exemplo, que o não vacinado não acarreta prejuízos à ninguém. 

O empregador está no grupo que luta pela obrigatoriedade, pois tem o dever legal de zelar pelo ambiente de trabalho dos colaboradores, e, desta forma, impedir que alguém sem vacina, coloque em risco os demais empregados. Aliás, a contaminação na empresa pode constituir acidente de trabalho por doença equiparada, na hipótese em que a doença seja proveniente de contaminação acidental do empregado pelo vírus SARS-CoV-2, no exercício de sua atividade, nos termos do inciso III do artigo 21, da Lei nº 8.213, de 1991. 

O custo para o empresário é alto para aceitar um empregado sem vacina, situação agravada para quem tem empregada gestante, pois ela tem o direito de ficar em casa durante a gestação, em substituição do trabalho presencial pelo remoto, sem redução de salário. Assim, independentemente da motivação para a obrigatoriedade ou não da vacina, pergunte a uma dessas famílias que perderam filhas, mães e esposas, se gostariam de ter vacinado esses entes queridos. Você verá que estamos desperdiçando algo muito importante. Muitos não tiveram o privilégio sequer de escolher vacinar-se ou não. Penso que, com certeza, optariam pela vacina nos leitos de morte.

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